sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

A Arte de Ensinar (Gilbert Highet)

A Arte de Ensinar | Gilbert Highet
No Livro A Arte de Ensinar, o professor Gilbert Highet mostrou alguns métodos de como devemos ensinar. É interessante notar que ele não teve a menor preocupação em apontar o que deve ser ensinado, devido ao enorme acervo de livros que nos mostram a mais variada quantidade de assuntos e técnicas que já existe na literatura. Antes de listar os métodos de ensino, ele aponta no capítulo 1 algumas características que todo bom professor deve ter.
Highet acredita que o professor deve conhecer bem a matéria que ensina e sugere que o bom professor deve ter informações sobre:
  • Os ramos das disciplinas;
  • As importantes descobertas dos últimos anos;
  • Principais problemas em aberto;
  • Como têm vivido os profissionais que atuam na área;
Em com a seguinte máxima ele destaca que "ensinar é inseparável de aprender", já que o professor deve se manter atualizado da melhor maneira que as suas condições permitam. Assim, o professor será capaz de notar que os problemas mais sérios das áreas em que atua são importantes para o ensino dos seus fundamentos; com isso, ele conseguirá ampliar o horizante imaginário de seus alunos. Pois, é bem verdade que os espíritos, de mestres e alunos, poderão se apefeiçoar ao infinito!
Para o professor Highet, dentre as características que compõem bons professores estão, principlamente, mas não somente:
  • A crença que a sua matéria está para o aluno, assim como a saúde está para o paciente na visão do médico;
  • O professor deve gostar do que ensina pois, os outros conhecimentos que orbitam a sua matéria serão absorvidos por ele ao longo dos anos, melhorando as suas aulas;
  • O professor deve planejar a sua própria carreira, assim evitará que sua vida torne-se enfadonha e acabe por prejudicar as suas aulas;
  • Gostar de alunos, oferecendo oportunidades até para os que são excêntricos e planejando as suas atividades, evitando dissipação de energia;
  • O professor deve saber mais, servindo como (1) ligação entre escola e o mundo e (2) ser capaz de construir pontes entre o mundo da juventude e o adulto;
  • Humor é uma qualidade importante para o professor.
O planejamento também é importante pois, nas palavras do professor Highet: "Se planejar o trabalho, desde o começo, terá suficiente discernimento e força de vontade para marcar as diversas fases de seu estado, registrando de forma clara os resultados que vá obtendo". Além do que já foi apontado, é importante que o professor também carregue consigo as seguintes capacidades para desempenhar com excelência a sua profissão: memória, forçade vontade e bondade.
O capítulo 2 é dedicado aos métodos do professor. Onde o ensino é organizado em três fases:
  1. Preparação do assunto;
  2. Comunicação do assunto ou das partes selecionadas aos alunos; e
  3. Verificação do que foi aprendido.
A preparação é feita em pequena escala, ou a breve termo, para ser melhor aproveitada pelos alunos. Quando preparada em larga escala, a chance de se obter sucesso é raríssima, principalmente, para professores universitários que costumam ter maior liberdade para selecionar o conteúdo e são menos fiscalizados. Ter consiciência dos fins que deve ser atingido é uma forma de garantir o bom ensino.
É uma deficiência viver improvisando, o acúmulo de conhecimento e a capacidade de ordenamento do que foi aprendido significa verdadeiro poder. Para isso, deve-se ter um plano. É obrigatório que a classe seja informada do plano, verificar se entenderam as fases do plano, e depois, logo que o trabalho se finalize, deve-se fazer uma revisão.

É necessário que se resuma o domínio que será tratado!

Como qualquer esforço intelectual intenso, o ensino perfeito, bem como, o estudo perfeito são exaustivos. Porém, o mestre não deve se tornar enfadonho ou maçantes. Apesar da preparação de um curso exigir força de vontade, e igualmente o seguimento das fases do plano, o mestre deve apetecer o seu ser ao ministrar as aulas. O curso deve ser modelado de acordo com:
  • Isto será útil para os alunos?
  • Isto está claro para eles, sem exemplos?
  • Esperará a classe que eu apresente estes conhecimentos?
Bons planejadores são conhecidos por sua forte sensibilidade estética!  Eles sabem que é a estrutura geral do curso que mais importa. Sabem evitar a monotonia do ensino, tida como um grande defeito. E por fim, a última palavra sobre a preparação de boas aulas: ter sempre as fonte originais. Karl Lehrs aconselhava: "Immer Quellen lesen, daraus ergibt sich alles von selbst".

A comunicação não pode falhar. Uma comunicação falha daquilo que foi preparado é falhar como professor. Logo, o ensino é completamente dependente da comunicação. Dentre os métodos de comunicação, enfatiza-se:
  1. Preleção - Contínua corrente de informação;
  2. Sistema tutorial - Professor pergunta e o aluno responde (feição construtiva. A partir das perguntas, o aluno deve tomar consciência de sua própria ignorância; e
  3. Repetição - Os alunos aprendem uma lição preliminar. Logo ela é ampliada e mais claramente explicada pelo professor que logo indaga os alunos para verificar se entenderam tudo.
Os três métodos são bons e um ensino de boa qualidade deve execitar os alunos nos três.

A exposição oral, preleção: depende da voz e dos gestos. É impossível fazer um discurso sem prepará-lo. Ao planejar a preleção, deve-se destacar: a) os pontos fundamentais; e b) Os argumentos de ligação. Uma exposição deve basear-se em notas escritas e nunca deve consistir na leitura delas. O melhor meio de formar uma aula é sublinhar-lhe as parte com a voz. Nomes difíceis ou fórmulas devem ser escritos no quadro para que possam ser anotados. O quadro é a "tabula rasa" da inteligência dos novatos, ele deve possuir os pontos mais relevantes da aula. O principal perigo do ensino via preleção é  tornar os alunos completamente passivos.

O sistema tutorial é um método crítico e de propósito positivo. Sócatres tinha uma crença, as ideias deveriam ser extraídas das mentes. O ensino tutorial é feito a partir de conversação. Objetiva levar cada aluno a compreender que a verdade estava no seu próprio poder investigativo, dado que procurasse firmemente e arduamente, recusando argumento de autoridade; e analisando cada solução mediante a razão, tão somente. É a melhor espécie de educação que os alunos podem receber. As fraquezas são conhecidas e diminuídas até a correção, enquanto que as forças são exploradas e desenvolvidas. O perigo está na personalidade do tutor: um tutor com personalidade forte pode sobrepor a do discípulo.
O aluno aprende por efeito de três diferentes atividades e que não se dão separadamente:
  1. Criação: fazendo o seu trabalho sozinhos;
  2. Crítica: observando os erros cometidos, mas defendendo os prontos que julga certos; e
  3. Apreciação do conjunto: considerando o trabalho que completou e comparando com o texto original.
As lições devem estar bem relacionadas entre si. Uma variedade de lições é importante para manter o interesse dos alunos e estimular o desenvolvimente por vários aspectos. Pode-se resumir o sistema tutorial na máxima: "um simples branco, o mestre em uma ponta e o aluno na outra".

A repetição, arguição ou recitação: independente de como é chamado, o método tem como base o estudo de um compêndio, ou uma série de documentos, em que um domínio de conhecimento seja trabalhado. O professor fraciona o assunto, onde cada seção é estudada em casa, como preparo de uma aula. Na classe, o professor deverá:
  1. Explicar o que os alunos tenham tentado aprender por si; e
  2. Verificar se os alunos prepararam o conteúdo, menos importante que a primeira.
A verdadeira tarefa para a qual os professores são remunerados é ajudar os jovens a aprender!

O métodos mais simples de descobrir se os alunos estudaram uma lição e de estimulá-los no estudo de futuras lições é indagar alguns tópicos. Perguntas escritas com respostas escritas são "testes", "provas" ou "exames". Antigamente, quando as pessoas eram bem educadas, todas as provas de maior importância eram orais.

Testes Escritos (Século XIX)
Para verificar o trabalho de memorização é muito útil. Contudo, em nível que transcende à memorização, testes deste modelo decepcionam. Esses testes foram criados para assegurar um julgamento altamente imparcial pois usa critérios imutáveis.

É importante que o professor eleve o ensino a maior altura do que a simples memorização de elementos isolados para que os alunos alcancem o entendimento de um robusto e completo esquema de pensamento. A aptidão que os professores devem estimular nos alunos é o sentido de estrutura; o poder de abarcar todo um processo histórico, uma relação geográfica ou o sentido de um grande livro.

Professores e alunos são dinâmicos e por isso progridem ou pioram. Daí surge a necessidade de verificar o progresso dos alunos. É desejável que se mantenha uma pressão sobre a turma aplicando uma prova por semana, mantendo os alunos encorajados ao trabalhar sem pausa. O bom ensino expande e desenvolve o aluno constatemente.

Há duas razões para aplicar questões aos alunos:
  1. Verificar se cada aluno fez o que lhe cabia;
  2. Esclarecer as dificuldades que tenham encontrado durante o processo.
O professor deve mostrar aos alunos que a aprendizagem e o ensino são um esforço de cooperação entre mestre e discípulo. Assim, a maioria dos alunos se esforçará mais e outros, a minoria, fará menos. É importante que se atente a principal dificuldade ao abordar um problema em classe que é orientar e restingir a sua ideia central - levando a alguma espécia de conclusão.
A profunda compreensão do conteúdo está associada com a constante referência ao material já estudados pelos alunos. Pois assim, os alunos exercitam a organização dos pensamentos, logo aprendem pelo exemplo. Começam a imprimir em seus trabalhos os modelos lógicos similares que internalizaram. Transpondo o hiato entre a memorização e o pensamento criador.

Uma classe que é dirigida de tal modo tende a ser mais competitiva:
  1. Aqueles que estudam menos ficam abatidos quando falham em questões simples;
  2. Os aplicados, mas lentos, ficam mais ágeis quando estimulados;
  3. Os brilhantes, mas razos, sentem-se desafiados a produzir cada vez mais e melhor.
Observações gerais sobre a competição no ensino:
O espírito de competição não deve ser aniquilado. Na educação, o ímpeto competitivo de ser usado para fins construtivos. Pois fora do ambiente escolar, a competição estimula tanto as boas qualidades quanto às más, contudo, na escola a competição deve ser guiada com moderação e rigoroso senso de adequação. A competição deve ser usada de várias formas para revelar a energia do aluno. A competição não pode virar uma obesessão, antes deverá cessar, transformando-se em cooperação amistosa. O que pode se relevar um desafio.

A importância da tradição!
A importância da tradição da escola ou da universidade atua como uma poderosa força no caráter e no espírito de quem quer que delas se aproxime. A tradição afeiçoa-se como uma corrente criadora que nos conduz para a riqueza e a maturidade. Corrente que nos estimula as energias do espírito!

Como a tradição opera?
Só é possível responder essa difícil questão em termos amplos.
  1. Encorajamento: muitos jovens promissores são nervosos e pouco confiantes em si. Se vão para uma universidade onde já passaram homens famosos, notam que eles se desenvolveram o espírito e usarem de todas as suas energias, poderão realizar uma carreira de alta categoria. O que um homem faz, outro homem pode fazer - provérbio.
  2. Graduação de possibilidades: numa universidade de tradição, o aluno aprende quais são os guias e os condutores do mundo.
  3. Sentimento de ordem: os estudantes nos institutos tradicionais adquirem uma clara noção de que a vida humana depende de ordem.
  4. Responsabilidade: ajudar os seus semelhantes. Bem-estar social parece estar vinculado as pessoas que vêm de universidades tradicinais.
  5. Emulação.
Além da tradição e a competição, outro estímulo é o castigo, pois a dor ensina a não fazer errado. A mais útil espécie de castigo é a repetição correta do trabalho que foi mal feito. Esse castigo é proveitoso pois emula a vida. Já para o mal comportamento é muito mais útil retirar certaz concessões. É válido destacar que uma falha da aprendizagem nunca deve ser punida com castigo físico. Pois, ele gera e nutri o ódio.
Algumas vezes, somente depois de vivenciar uma fase de desordem, transtorno e más companhias é que os jovens reorganizam o espírito. Ter paciência e demonstrar que realmente quer ajudar, mesmo a jovens complicados e teimosos, pois assim, eles podem se comover e mudar.

Fixação das Impressões
Se o professor deixar os alunos com informações inadequadas, terá desempenhado muito mal o seu ofício. Os últimos três ou quatro dias são cruciais para tornar um curso proveitoso ou para desacreditá-lo. A deficiência do mau planejamento é o principal erro e também é responsável pela falta de tempo para rever e fixar as primeiras impressões. Um professor que organize mal o seu curso, e não defina onde quer chegar, nem diga aos alunos o que deles espera, falha principalmente porque não delimita o material de forma conveniente. Pois, os alunos se lembram dos mestres que faziam lembrar.

Grandes mestres e seus discípulos (Capítulo 3)

O ensino moderno é proviniente de duas linhagens:
  • Filósofos gregos (seguiam o movimento da razão)
  • Profetas hebreus (proferiam a voz de Deus)
Um grupo de pessoas em contato com Deus pode mudar o mundo, mas será preciso um trabalho hérculo da razão para manter a posição conquistada, e preparar as futuras gerações.

Fruto do sofismo: o pensamento é uma das mais valiosas e poderas forças da vida humana. Os sofistas diziam que tudo sabiam e tudo podiam explicar. Sócrates sabia que não sabia nada e se esforçava por investigar. Sofistas eram mestres de conferências.

Sócrates foi o primeiro tutor
As inovações de Sócrates se deram sobre a conversação como método de ensino; e se fizeram em uma única sociedade, da sua cidade de Atenas, não em excursões, passeios ou viagens como as inovações como as inovações dos sofistas. Sócatres sem limitar a propor questões ao invés de falar por falar. Sócrates apresentava as suas delicadas e pertinentes perguntas; e o seu opositor, não de modo forçado, mas pela refleção, era obrigado a se posicionar como o errado e emudecia.
Sabe-se que Sócrates foi um bom mestre, pois teve bons discípulos. O de maior destaque foi Platão, o fundador da Academia (uma universidade), a fim de ensinar e estudar os trabalhos iniciados por Sócrates. A originalidade do ensino socrático era que não sabia o que ensinava, mas sabia como ensinar. Sendo assim, um grande exemplo de poder de inferência.

Platão foi o fundador do sistema de exames
Era mais sistemático e mais rigoroso do que Sócrates. Não há nenhum meio de educar uma pessoa, para convertê-la e mudá-la, ou convencê-la completamente e de forma segura, senão pelo raciocínio calmo e frio. Argumentos racionalizados são as mais poderosas e estáveis energias que movem os homens.

Pesquisa e ensino de Aristóteles
Para Aristóteles, a pesquisa e o ensino representavam as duas faces de uma moeda. Ele organizou o ensino de uma forma acuradíssima. O ensino de Aristóteles é uma discussão em alto nível, processos de trabalhos consagrados e horizontes abertos. A combinação de processos da aula de exposição com os de debates em classe eram a forma como ele atuava, mas dava maior importância para a exposição. Estabalecia uma série de assuntos, que se conectavam para a visão completa de uma questão mais ampla. Ele falava seguidamente, analisando uma ideia após a outra, detalhando onde falhavam e o motivo; por fim, procurava um forma de solucionar a questão. Com isso, desejava demonstrar que o conhecimento é um constante processo de descoberta.

Jesus de Nazaré
Sermon On The Mount | Bryan Ahn

O mais famoso mestre do mundo ocidental foi Jesus de Nazaré. Jesus ensinou segundo a tradição dos profetas hebreus. Aos 12 anos de idade, discutia as distintas interpretações com os mais hábeis professores da lei e do ritual hebraico; e sentia que esse era o seu dever, mais importante do que estar casa com os seus, (Lc 2,42-45).
Jesus ensinava a seus discipulos e aos homens do povo. Escolheu discípulos simples, porque o seu ensino era voltado ao povo comum, e particularmente aos pobres e desencaminhados, tão abundantes. Jesus orava como um pensador original e não como um erudito de profissão. A tradição de pegar um trecho da bíblia e explicá-lo vem do ensino hebraico e chegou à Europa e à América pela propagação do Cristianismo.
Conhecemos a Sócrates, Platão e Aristóteles, principalmente pelos diálogos e notas de aulas. Pois bem: o robusto resultado do ensino de Jesus de Nazaré deve-se à preparação que fez de mestres capazes de difundir os seus ensinamentos e de preparar outros mestres com o mesmo objetivo de levar a palavra.
Métodos:
  • Discursos
  • Dizer um trecho simples e importante para então ficar em silêncio
  • Pontuar o ensino com atos
  • Estimular a propagação de ideias

O ensino na vida cotidiana (Capítulo 4)
Todos nós estamos sempre ensinando e aprendendo. O caráter disciplinador do ensino a ser fornecido pelos pais é de causar aborrecimento, mas sempre necessário. Para qualquer questionamento, uma resposta deve ser disponibilizada, ao menos para manter a criança interessada em aprender e companheira de seus pais. O melhor meio de governar os filhos é explicar-lhes as regras que desejamos que respeitem. Quando se diz como se deve fazer e o motivo de fazer, as pessoas pasam a trabalhar de modo mais produtivo.